sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

EVANGELHO E CULTURA EM ERIC VOEGELIN

Evangelho e cultura em Eric Voegelin 

Jhonathan Taborda


ENSAIOS PUBLICADOS 1966 – 1985 (ERIC VOEGELIN)

Capítulo 7 – Evangelho e Cultura

A Cristandade não é uma alternativa à filosofia, é a própria filosofia em seu estado de perfeição” [1]. Voegelin, em seus ensaios, no capítulo Evangelho e Cultura, nos mostra a relação entre a cultura helênica e a dispersão do Evangelho no “mundo” grego, e a relação inversa que temos hoje na sociedade “moderna”. O filósofo se pergunta porquê o Evangelho não é aceito atualmente e busca nas raízes históricas o porquê da aceitação do Evangelho pelos povos antigos, principalmente aqueles que foram colonizados pelos gregos, o que é de fundamental importância, porque o nascedouro da Filosofia foi em Atenas e os povos que estavam em contato com a cultura helênica de alguma forma absorviam sua cultura, as vezes mesclando nelas partes da cultura helênica, pois assim diz: “O Evangelho parecia oferecer a resposta para a busca do filósofo pela verdade”[2]. Essa verdade que já em Aristóteles identificava-se pela busca do conhecimento, que em seu argumento “Todos os seres humanos naturalmente desejam o conhecimento” [3], nos mostra o que Voegelin identificou como ausência na sociedade atual. 
O Evangelho não é aceito porque houve uma deformação da razão em nome da própria razão, essa deformação causou uma repulsa pelo Evangelho e, por consequência, uma repulsa pela própria razão. No entanto, no período dos Apóstolos os povos helênicos compreendiam que havia uma Ordem no Cosmos independente dos deuses de seus antepassados, essa visão de um ordenamento superior aos deuses culminou na comprovação da  Via Racional da Existência de Deus em Aristóteles, e depois na Alta Idade Média, em Santos Tomás de Aquino na Summa contra o Gentios. Essas vias possibilitam ao homem entender que há um Logos divino, este que ordena todas as coisas, no entanto, as vias são deficientes porque não nos revelam tudo sobre Deus. E quem faz esse papel de nos revelar com perfeição é o Evangelho, por isso sua aceitação foi plausível, pois já se entendia que havia um ordenamento, embora não se soubesse quem Ele era, o que se comprova com a passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos, em que São Paulo diz: 
“ Cidadãos atenienses! Vejo que, sob todos os aspectos, sois os mais religiosos dos homens. Pois percorrendo a vossa cidade e observando os vossos monumentos sagrados, encontrei até um altar com a inscrição: ‘Ao Deus desconhecido’. Ora bem o que adorais sem conhecer, isto eu anunciar-vos” [4] 
Assim inicia-se a difusão do Evangelho na sociedade grega, aquilo que os filósofos procuravam agora estava à disposição e fora revelado em Cristo que unifica os homens. Diz Eric Voegelin neste capítulo que a sociedade grega não era a única capaz de reconhecer esse Ordenamento do Cosmos: 
“O mistério da presença divina na existência crescera na consciência do movimento muito antes de o drama do Evangelho  começar; e os símbolos que os evangelistas empregam para sua expressão, o Filho de Deus, o Messias, o Filho do homem, o reino de Deus, estavam historicamente à mão através dos símbolos faraônicos egípcios, reis davídicos, proféticos e apocalípticos, através das tradições iranianas e dos mistérios helênicos. Portanto, o “segredo” do Evangelho não é nem o mistério da presença divina na existência, nem sua articulação através de novos símbolos, mas o acontecimento em sua compreensão inteira e a decretação através da vida e da morte de Jesus” [5]. 
Logo, a presença e os símbolos inerentes a esse ordenamento já era evidente nas sociedades pré-cristãs, em que questões como vida e morte eram recorrentes, e onde a resposta para essas questões foi dada em plenitude com  a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto, agora as questões não eram mais materiais, ou seja, esse ordenamento não se encontrava dentro do Cosmos, mas fora dele e isso difere de qualquer outra “religião”, pois com essa descoberta que Deus está fora do universo, se faz necessário uma ponte até Ele, que é Cristo, já bem proclamado como o Caminho, a Verdade e a Vida. Desse modo, só há uma religião possível, uma vez que apenas uma “religa”; o homem preso no cosmos com a Divindade que está fora dele. 
O autor explica ainda mais, que a causa inicial da deformação da razão se deve à gnose, que ao olhar o mundo o vê como algo maligno e que o ser humano através do conhecimento se liberta. Os sistemas gnósticos do século II são “um estado de alienação da realidade, que devem ser mais precisamente caracterizados como um isolamento extracósmico da consciência existencial” [6]. De forma geral, com o avanço da gnose na sociedade, se perde a noção do transcendental e, consequentemente, como a razão sozinha se afasta da busca da Verdade, já não tem os símbolos míticos iniciais e, portanto, há bloqueio para a difusão do Evangelho. Da mesma forma ocorre com o Marxismo, que observa apenas o mundo material e que com a libertação da estrutura destrói a superestrutura. Há neste caso, uma influência grande da gnose no marxismo que ao avançar deforma a razão e tudo se torna disputa de poder entre proletariado e burguesia.

Referências:

[1] Ensaios Publicados 1966-1985 – Eric Voegelin, Capítulo 7, página 218, Editora É Realizações.
[2] Ensaios Publicados 1966-1985 – Eric Voegelin, Capítulo 7, página 218, Editora É Realizações.
[3] Metafísica – Aristóteles, Capítulo 1, página 42, Editora Edipro.
[4] Bíblia de Jerusalém, Atos dos Apóstolos 17,22-23.
[6] Ensaios Publicados 1966-1985 – Eric Voegelin, Capítulo 7, página 261, Editora É Realizações.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

UMA VELHA E UMA NOVA JORNADA: CONCLUSÃO DA FACULDADE



Neste momento, uma sensação inusitada me invade, um sentimento desconhecido, uma mistura de alegria e temor. Finalmente, terminou esse período da minha vida que durou exatamente quatro anos. Longos anos? Curtos? Difícil dizer. Para muitos, passar por uma universidade é uma conquista muito sonhada. Para outros, é um requisito necessário para viver. Mas para mim, foi uma batalha. Não porque foi "difícil", no sentido que é comumente atribuído. Admiro aqueles que passam por uma universidade e realmente enfrentam grandes dificuldades, pois se deparam com um currículo que, pelo menos minimamente, leva a sério o conhecimento e a verdade (o que não foi o meu caso). Mas afinal, qual foi minha "batalha"? Foi enfrentar um combate que exige grande prudência. Um combate externo, mas, sobretudo, um combate interior. Esse combate remete a uma realidade longeva, comum aos perseguidos por causa da verdade. Viver em uma época que despreza e desconsidera de modo absoluto a existência da verdade (absoluta!) pode trazer consequências danosas à alma. Adentrar em uma universidade pode ser um grandioso combate espiritual para uma alma cristã, a qual é vilipendiada neste ambiente hostil. Não surpreende nem um pouco que em um discurso presente na minha colação de grau, tenha-se ressaltado a importância do "bem", do "belo" e do "amor", sendo este último substituído pelo verdadeiro componente da tríplice: a verdade. O amor é inseparável da verdade, mas é claro que uma sociedade que acredita que o amor está separado do sacrifício, não é capaz de compreender essa relação. Para a alma cristã que vive unicamente pelo amor e pela verdade, frequentar o ambiente universitário é enxergar toda a miséria dessa incompreensão, deturpação, desprezo, ilusão. É deparar-se, muitas vezes, com uma falsa e vazia intelectualidade, com uma imoralidade tremenda e uma perversão que as vezes parece sem limites. E como poderás tu, ó alma cristã, preservar-te pura e imaculada diante disso? Buscando à Cristo, a própria Verdade. Minha trajetória pela universidade foi marcada por altos e baixos, mas não permiti que minha alma fosse corrompida pela mentira. Principalmente os últimos anos, foram marcados por muita oração e edificação espiritual, a qual é imprescindível para uma vida intelectual. Cumpri com todos os meus deveres enquanto acadêmica, prestei atenção nas aulas, realizei todos os trabalhos, avaliações, apresentações, estágios, leituras e interações. Mas não deixei de buscar a verdade. Sabia desde antes de adentrar na universidade, que raramente a encontraria lá, por isso, li livros, confrontei ideias e persegui o verdadeiro conhecimento, o qual encontra-se nos ombros de gigantes; aqueles mesmos que são tão desprezados, caluniados ou simplesmente desconhecidos por parte do corpo acadêmico. No entanto, sinto que fiz pouquíssimo. Surge então um sentimento paradoxal: o do dever cumprido se despedindo e o do dever a ser cumprido me chamando. Qual será minha nova jornada? Talvez uma boa parte dela seja ainda desconhecida, mas de uma coisa estou certa: ela estará fundida à verdade, embora vá cruzar ainda com demasiadas contradições.


O artigo de TCC está disponível aqui.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

MULHER CATÓLICA




Mulher católica
De alma modesta
Consigo travou uma guerra
Mas a virtude a liberta.

Filha de Maria
Guardou sua intimidade
Preservou sua castidade
Ganhou uma pérola.

Templo do Espírito Santo
Seu único ideal é a santidade
E para alcançar o Céu
Renuncia a toda promiscuidade.

Para ela a moda é vã
A carne inimiga
O mundo passageiro
Seu único objetivo é ser moldada pelo Oleiro.

De coração reto
Sua pureza é verdadeira
Não teme os falsos juízos
Sabe que a santidade não é brincadeira.

Mulher de pudor
Renunciou a mentalidade moderna
Seu propósito?
A bem-aventurança eterna.

Escrito por Beatriz Back

sábado, 9 de março de 2019

A HIPÓTESE DO PÊNDULO





Ao perturbar um pêndulo, o mesmo oscila de um lado para o outro, no entanto, depois de determinado período, há o repouso no centro, porque ali há o menor nível de energia. O universo foi constituído para se manter em equilíbrio entre seus sistemas de forças e as suas energias. No princípio, o primeiro Homem e a primeira Mulher eram livres e não precisavam escolher, não existia escolha, pois em tudo que faziam, faziam a vontade de Deus, já que eram livres Nele. Quando nossos primeiros pais decidem escolher, a escolha deslocou o pêndulo para um lado e desde o Colapso nós precisamos tomar escolhas. Houve nesse momento o certo e o errado, porque antes apenas existia a Verdade. Quando nós escolhemos partimos da premissa de que existe um “lado” e que cada escolha que fizemos elimina a outra, ou seja, cada escolha que fazemos é mutuamente exclusiva. Por exemplo, a Fé e a Razão, para muitos apenas a Fé (Fideístas) e para outros apenas a Razão (Racionalistas). Esse embate é facilmente explicado quando o observamos com a Hipótese do Pêndulo.

Nossa humanidade devido ao pecado original não sabe mais escolher, no entanto precisa escolher o tempo todo, há algo dentro de nós que procura a Verdade, nossa alma anseia por Ela, mas devido as nossas tendências não conseguimos olhar com clareza para a Verdade e tentamos encontra-la em algum “lado. Mas se escolhemos um excluímos o outro, como acontece com os racionalistas e fideístas, eles sempre escolhem um lado e negam o outro. É claro que isso acontece porque há uma tensão entre eles, mas nem sempre foi assim, pois a Igreja instruída pela Verdade encarnada, é a responsável por desfazer a tensão e conciliar ambas e fazer com que o pêndulo retorne ao seu estado de repouso sem nenhuma perturbação e descolamento. 

Mas por que não volta naturalmente ao seu estado de repouso como um pêndulo físico? Isso se explica com o pecado primeiro, que já no inicio deslocou o pêndulo para um lado, e para que o mesmo voltasse ao seu estado original foi necessário que o próprio Criador o concertasse. Porém, Ele não faz sozinho, sendo também a humanidade responsável pelo deslocamento do mesmo. Essa mesma humanidade deve participar no concerto e, ao instituir sua Igreja, Cristo autoriza que Ela continue seu trabalho na Terra para que o pêndulo não mais se desloque. Logo, a Verdade não é uma escolha, ela deve ser acolhida sem ser escolhida, porque o mesmo Deus que se revela nas Escrituras é o mesmo Deus que Criou a natureza. Sendo Ele Deus, Ele não engana e não se engana, por isso a heresia se encontra na escolha, porque um herético é aquele que escolhe uma verdade aparente, ou seja, é apenas uma parte da Verdade. Mas, esse herético, ao escolher uma parte dela nega o restante da Verdade. Esse pecado se encontra próximo do Pecado contra o Espirito Santo, porque ao negar a Verdade por inteira, nega-se a própria salvação e automaticamente nega-se o perdão eterno.

Escrito por Jhonathan Taborda

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A MEDIDA DO AMOR É AMAR SEM MEDIDAS

28 fevereiro 1


Quão grande é o seu amor por Cristo?

Aquele que se deu inteiramente por nós na Cruz merece todo o nosso amor, todo o nosso ser. Não há como amar sem se doar, e a doação a Deus não deve ter limites, pois, Deus não colocou nenhum limite para se doar a nós; tanto que se fez homem, para cumprir em plenitude o Santo Sacrifício.

O Evangelho de hoje (Mc 9, 41-50) revela o ápice dessa doação. Se quereis amar a Deus, nada havereis de querer mais do que passar a eternidade com Aquele que é o próprio amor, e se nada pode ultrapassar esse anseio, coisa alguma se imporá frente à isto, de modo que os limites se esvairão, a ponto de cortares uma mão, um pé, um braço e arrancar até os dois olhos. Quê importa a materialidade passageira dessa vida comparada a eternidade no Reino de Deus? As tristezas logo passarão e serão consoladas pelo Senhor, se não houver receio em renunciar à vãs alegrias.

Pequenas renúncias já são capazes de comprometer o bem-estar do homem. Mas quando são feitas com amor, os espinhos que perfuram a carne são capazes de exalar um doce e suave perfume, e a dor é transformada em amor. Não é fácil fazer como os santos fizeram, mas não podemos deixar de imitá-los, pois assemelhar-se á eles é tornar-se semelhante Àquele que se entregou por nós.

Nossas atitudes podem escandalizar nosso próximo, e sobre isso, Nosso Senhor é bem claro: “se alguém escandalizar um desses pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”. Nossos pecados podem escandalizar os nossos irmãos, aqueles que ainda são pequenos na fé, por isso, é necessário olharmos para nós e questionarmos: “Estou sendo espelho de Deus?”. Nossos pensamentos, atitudes, palavras e o nosso corpo de modo completo deve exalar o perfume do Espírito Santo.

Arrancar uma mão, um pé, um olho, às vezes significa fugir de más conversas e más companhias, desviar certos pensamentos impróprios, desviar os olhos de cenas inconvenientes, silenciar em momentos inadequados, cobrir o corpo com modéstia e pudor... Aquilo que vestimos, falamos e o modo que nos comportamos são capazes de levar junto de nós o outro a cair em pecado. Não sejais hipócritas, não é inocente aquele que leva o outro ao pecado, atentais ao que Jesus disse, ai daquele que cometer escândalo!

Pequenas e grande renúncias são necessárias. Os espinhos podem doer no início, mas não vos preocupeis, o Senhor mesmo encarregar-se-á de tornar os espinhos que perfuram vossa carne mais suaves, e o doce e suave perfume que surgirá será o do amor.

Não esqueçais: bem-aventurados os que que choram, os que sofrem perseguição, os que têm fome, os pobres de espírito... Nosso Senhor Jesus Cristo consolará todos os que sofrem em Seu Nome, e finalmente, Aquele que amou sem medidas será amado sem limites. 

"A medida do amor é amar sem medidas" Santo Agostinho

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

BREVE EXORTAÇÃO ÀS IDEOLOGIAS

20 fevereiro 0


Mais vale a ação benevolente do que a reclamação rigorosa! Atualmente, notamos “tradicionalistas” mais preocupados com a conduta das outras pessoas do que com o amor ao próximo. Querem uma Igreja que lhes sirva, no entanto, não querem servir a Igreja, e quando há uma pobre alma sedenta do amor de Cristo e o servindo no altar tudo o que essas víboras fazem é reclamar e destilar o seu veneno atacando mais uma vítima. Não sou “progressista”, tenho amor à Tradição, mas não me afeiçoo por esses grupos de palpiteiros que só sabem exigir a perfeição de uma humanidade imperfeita, são crianças egocêntricas e sua tarefa é reclamar e apontar o que está errado. Não obstante, não sujam suas mãos, querem uma pureza externa e um coração frio; estão “limpos”. Entendi que nesse percurso temporário que é a vida humana, o mínimo que se faz deve ser bem feito para Nosso Senhor Jesus Cristo, não reclamar e fazer tudo com amor, ser casto, pobre e obediente e amar o próximo mesmo quando ele te fere com o veneno de sua língua podre. Somos odiados e rejeitados pelas ideologias impregnadas dentro da Igreja... “Modernistas” que balbuciam línguas errantes, “tradicionalistas” acusadores e frios, heréticos e até mesmo apostatas. Mas tudo isso passa porque só Deus basta e sua Igreja até o fim dos tempos. Queria eu me localizar em algum grupo, mas sei que a Verdade não é uma escolha, porque se é a Verdade eu não preciso escolher, devo apenas acolher e obedecer a Aquele que morreu por mim!

Escrito por Jhonathan Taborda

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