terça-feira, 26 de dezembro de 2017

RESENHA: ORTODOXIA, G.K CHESTERTON



Você já sentiu, quando estava lendo um livro, que conversava com o seu autor? Como se o próprio autor estivesse conversando com você, em um diálogo filosófico e com argumentos convincentes? Foi assim que me senti lendo Ortodoxia. Eu admito que na quase totalidade dos livros que leio, tenha essa sensação, de estar conversando com quem escreveu o livro. Mas com "Ortodoxia", tal sentimento foi ainda maior. O Sr. Chesterton tornou-se meu amigo, meu professor, e outras figuras mais, durante a última semana em que li seu "livro de paradoxos" - Ortodoxia.

Agora faço uma outra pergunta: Você já sentiu, enquanto relia um livro, que estava lendo um livro totalmente diferente? Como se o autor, ou alguém, tivesse mudado as palavras e muito do conteúdo exposto no livro? Foi assim que me senti relendo Ortodoxia. Essa sensação é impressionante, mas não poderia ter sido diferente. O Sr. Chesterton, com sua escrita requintada, poética, filosófica, direta e surpreendente, veio me falar verdades profundas, durante a última semana em que reli "sua jornada em busca do óbvio".


Caso você ainda não conheça esta figura incrível, que foi um dos mais influentes intelectuais do século XX, Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) foi um pensador inglês, renomado jornalista, escritor, poeta, filósofo, dramaturgo, teólogo, literário, crítico de arte, e até ex-ateu e ex-socialista! Seu humor perene e fascinante nada mais é que o resultado de uma infância prolongada, que admira e cativa seus leitores. 

Caso você pense "UAU! Como eu não conhecia esse cara?!", não se surpreenda. Chesterton é um escritor desprezado, apesar de seu brilhantismo intelectual. Na realidade, levando em consideração o contexto em que estamos inseridos, é justamente devido ao seu brilhantismo intelectual que ele é desprezado. Embora fosse facilmente percebido com seus 2 metros de altura e 140 quilos, o Gordo é dificilmente notado nas escolas e instituições de ensino (principalmente aquelas que adoram se autointitularem democráticas). Afinal, seria de se esperar diferente? Estamos falando de um pensador que criticou as maiores ideologias do século XX! E que não apenas as "criticou", mas as derrotou com argumentos simples e irrefutáveis.

Enfim, vamos à Ortodoxia! Como já havia dito acima, a leitura que fiz do livro na última semana foi uma releitura da obra, lida pela segunda vez nesse ano, e que fechou com chave de ouro 2017. Inclusive, fiz um vídeo comentando um pouco mais sobre essa obra, pelo qual pude alcançar muitos admiradores de Chesterton, graças a Sociedade Chesterton Brasil que divulgou o vídeo em sua página. Caso você tenha interesse em assistir, aqui está o vídeo:


Publicado pela primeira vez em 1908, a obra retrata a jornada espiritual do jovem Chesterton, que acreditando estar formulando uma heresia, acabou descobrindo ser a velha ortodoxia. A obra também é resposta à um desafio e à provocações de seus contemporâneos. Nas páginas de sua obra-prima, o autor apresenta uma filosofia na qual acabou por acreditar, que como diz ele "Não a chamarei de minha filosofia, porque não fui eu quem a fez. Deus e a humanidade a fizeram; ela me fez a mim" (p.25)

Como já foi dito, Chesterton foi ateu, e por mais incrível que pareça, não foi lendo relatos de autores cristãos ou o próprio Livro do Cristianismo que ele se converteu, mas lendo autores não-cristãos, ateus e até anticristãos. Pois, diante de tais relatos ele indagou-se: "O que é esta coisa extraordinária que todos estavam ansiosos por contradizer, sem mesmo repararem que, assim procedendo, contradiziam a si próprios?". É também disso que se trata Ortodoxia, sobre sua jornada que o levou ao Cristianismo.

Nesta obra, Chesterton vêm nos chamar, ou melhor, vem nos pegar pela mão e mostrar a autodestruição em que as filosofias modernas estão condenadas. Vem nos convidar, ou melhor, vem nos forçar a refletir e pensar filosoficamente sobre diversos assuntos, sussurrando nas entrelinhas para não deixarmos nos seduzir por pensamentos suicidas, mas para nos deixarmos ouvir a voz daquilo que clama ser incorruptível, e por isso mesmo, eterno e transcendente.

É possível enxergar refletido nas páginas que se seguem, um profundo desejo e comprometimento com o conhecer e aceitar a verdade. Além disso, é possível enxergar críticas bem fundamentadas contra o materialismo, determinismo, progressismo, relativismo moral, e também ao socialismo e capitalismo, os quais ele expressa serem inimigos da justiça e da liberdade.

Mas ao que Chesterton não se opunha afinal? O que ele defendia? Ele defendia o homem comum e o bom-senso. Defendia a liberdade, o pobre, a família, a beleza, o Cristianismo e a Fé Católica. Pois, ao longo dos anos, Gilbert percebeu que todas as suas convicções já haviam sido ensinadas pela igreja muito tempo antes. 

G.K Chesterton inicia a obra declarando algo interessantíssimo sobre a sociedade em que vivemos: "As pessoas não conhecem a fundo o mundo em que vivem e, por essa razão, acreditam, cegamente, em meia dúzia de máximas cínicas que estão longe de ser a expressão da verdade" (p.31). Isso resume o que será abordando no primeiro capítulo,intitulado "Os maníacos", e também muito do que compõe a obra, a qual ele inicia com uma crítica em oposição às correntes de pensamento moderno.

O autor começa a expor em palavras aquilo que encontrou em lugares tão inesperados, e que era justamente o que tanto esperava encontrar: a verdade. Como dizia ele, a verdade se encontra nos lugares em que menos esperamos, e assim o é muitas vezes de fato. Dessa forma, Chesterton vem romper com o senso comum, desmentindo aquilo que os livros de autoajuda atuais adoram propagar: de que o homem precisa confiar em si mesmo. Em surpreendente oposição, o autor coloca que "a autoconfiança é uma das características mais comuns de um fracassado" (p.32). Sendo objetivo de Gilbert com Ortodoxia, responder à uma indagação feita a partir dessa polêmica afirmação: "Mas, então, se o homem não acreditar em si mesmo, em que há de acreditar?". É à isso que ele irá responder no decorrer das páginas que se seguem.

Uma outra surpreendente afirmação, é a que diz que "a imaginação não produz a loucura: o que produz a loucura é exatamente a razão", sendo o louco, o "homem que perdeu tudo, menos a razão". Seguindo tal ideia, é de forma magnífica e poética que Chesterton encerra o capítulo dizendo que "a Lua é a mãe dos lunáticos e a todos eles deu o seu nome".

No segundo capítulo, "O suicídio do pensamento", ocorre de maneira mais aprofundada a crítica ao pensamento moderno, que ao meu ver, só existe devido ao que Chesterton declara: que antigamente "o homem podia duvidar de si mesmo, mas não duvidava da verdade. Agora, acontece exatamente o contrário". É assim que ocorre o fenômeno de autodestruição do intelecto humano.

Observa-se que todas essas correntes de pensamento moderno são autodestrutivas, pois, acabam por afirmar aquilo que negam em sua própria afirmação. Um exemplo disso é o progressismo atual e o relativismo moral. Como coloca o autor, é comum ouvirmos que "O que é bom em uma época pode ser mau em outra". Contudo, embora isso seja verdadeiro, não podemos dizer que as mudanças que ocorreram foram um aperfeiçoamento daquilo que antecediam tais mudanças, pois, se o padrão mudar, como poderá haver um aperfeiçoamento, se todo aperfeiçoamento implica sempre em um padrão que é previamente estabelecido?
Referente ao progressismo atual, é comum vermos que a própria mudança é o objetivo e ideal do progressista, mas, "considerada como um ideal, a própria mudança torna-se imutável".

O terceiro capítulo, intitulado "A ética da terra dos elfos", é uma parte muito importante e central para a compreensão da obra. É aí que o autor faz uma relação entre tradição e democracia, relacionando-os com os contos de fadas. Chesterton percebeu que as grandes verdades foram aprendidas com sua babá, verdades contidas nos contos de fadas; um mundo que é "o país ensolarado do bom senso".

Outro capítulo de grande importância chama-se "Paradoxos do cristianismo". Como foi revelado acima, Chesterton se converteu lendo relatos de autores não cristãos e anticristãos a respeito da Fé, por isso ele declara:
"[...] logo uma lenta e horrível impressão gravou-se, gradual mas graficamente, sore o meu espírito - a impressão de que o Cristianismo devia ser algo extraordinário. De fato, o Cristianismo (como eu entendia) tinha os mais violentos vícios, mas tinha também, aparentemente, o místico talento de conciliar defeitos que pareciam incompatíveis entre si" (p.130)
Um desses paradoxos é que o Cristianismo é acusado de ser demasiadamente pessimista e otimista demais.
"O paganismo declarou que a virtude estava no equilíbrio, e o Cristianismo veio declarar que ela estava no conflito: na colisão de duas paixões aparentemente opostas" (p.141)
Ser mais presunçoso do que jamais fora e ser mais humilde do que nunca. Morrer para viver. Odiar o pecado e amar os pecadores. O Cristianismo veio separar o crime do criminoso, o pecado do pecador; veio, sendo desde o início, um sinal de contradição. 

 Cristo foi o maior sinal de contradição, o Deus   que se fez homem, veio para consertar o erro do   homem de querer se fazer Deus. Cristo   crucificado, que no sofrimento traz a alegria.   Salvação, "que ocorre escondida na aparência de   fracasso". Do nascimento a morte, do berço até   a  cruz, o fracasso foi o caminho do triunfo e da   glória eterna.

 Chesterton terminará a obra discorrendo sobre o   paradoxo primário do Cristianismo, aquele que   está relacionado com o Pecado Original, que nos   mostra que o próprio normal é uma   anormalidade, e que mostra que aquilo que   nunca conhecemos é mais natural para nós do     que nós mesmos.

 Sem dar "spoiler" e acabar com a maravilhosa   surpresa do leitor ao deparar-se com o   encerramento incrível deste livro, também   incrível, apenas darei uma "sinopse" daquilo que   o aguarda ao fim de Ortodoxia. Lá, nas últimas   páginas, Chesterton revela aquilo que é segredo   para os cristãos e que o próprio Cristo guardou como segredo também...

"Os estóicos, antigos e modernos, orgulham-se de esconder suas lágrimas. Ele (Jesus) nunca ocultou as Suas; sempre mostrou-as, claramente, a escorrer por Suas faces francas, perante qualquer cena diária ou perante a vista longínqua da sua terra netal. Havia, no entanto, alguma coisa que Ele ocultava" (p.235).

O que era este tal segredo que Chesterton desconfiava ser?

Termino esta resenha com esse questionamento para despertar naqueles que ainda não leram a obra, um pouco de curiosidade.

Ortodoxia é uma verdadeira obra de filosofia, que merece ser lida e relida, apreendida e transmitida. 

Nome: Ortodoxia
Autor: G.K.Chesterton
Editora: Ecclesiae
Nº de páginas: 280

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O JUSTO PELOS INJUSTOS



O Justo pelos injustos


O pecado entrou no coração do homem,
Este tentando ser deus, recusando ser homem,
E o véu se estabeleceu,
O homem foi para longe de Deus.

Deus depara-se então com um dos maiores problemas,
Como conciliar misericórdia e justiça?
Como expressar seu amor pelos pecadores sem atingir sua própria natureza santa?
Como expressar sua justiça com os pecadores sem frustrar o seu amor santo?

A solução se iniciou com a vinda daquele que inexplicavelmente era inteiramente homem e inteiramente Deus,
E finalmente aconteceu, na cruz,
Na cruz, quando o sangue do cordeiro é derramado,
Lavando e purificando, levando todos os nossos pecados.

O Senhor Deus-homem, é entregue nas mãos dos soldados para morrer crucificado,
Mas antes de tudo é entregue pelo Pai por amor, destino que é aceitado livremente pelo Filho.

O Filho nega a si mesmo a fim de se dar a si mesmo pelos outros,
O cordeiro sacrificado, o primogênito dos mortos,
O mediador, o salvador
Ele estabelece uma nova e eterna aliança,
Através do seu sacrífico eterno.

Ele faz uma escolha,
“Seja feita a vossa vontade e não a minha”,
Aceitou o cálice, escolheu sacrificar-se a fim de salvar o mundo.

Ali, na cruz, o filho sofre morrendo, e o Pai sofre a morte do Filho,
Ó, sofrimento que é meio de glória,
Sofrimento que é a própria glória.

Na escuridão, o véu finalmente é rompido,
E o próprio Deus, substitui-se a si mesmo pelo homem,
A autossatisfação pela autossubstituição,
É o Juiz levando o próprio juízo.

Cristo, morto,
Leva nossa maldição para nos dar a benção
Leva nosso pecado para nos dar a vida eterna

Cruz, lugar em que a suposta indiferença de Deus se desfaz em pedaços,
Cruz, evento salvifico e revelatório,
Cruz, sinal de contradição,
Lugar de castigo e anistia
Severidade e graça
Justiça e misericórdia

Cristo, que entrou no nosso mundo de carne e sangue, lágrimas e morte,
Deixando sua imunidade à dor,
Veio para sofrer como nós, ser humilhado, espancado, traído, abandonado,
Veio para morrer.

Mas a morte não o podia levar,
Então Ele ressuscita, 
E vivo ainda hoje, nos chama,
Venha, tome a sua cruz e siga-me

Esse Deus que é zombado e ridicularizado pelos filósofos,
É Deus santo, é Deus único,
Deus que enfrentou a morte por amor nós,
Amor este que não se encontra no dicionário,
Nem em lugar nenhum, mas lá no calvário.

Infinito amor, espantoso amor, constrangedor amor
Como pode ser que tu, meu Deus, morresse por mim?

Aquele que era e há de vir,
Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos.

Autoria de Beatriz Back





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