terça-feira, 30 de janeiro de 2018

NO RECÔNDITO DE MEU DESERTO


Foi caminhando no deserto de minha própria alma que eu encontrei-Te. Só que não fui eu quem Te encontrei, mas antes, Tu me encontrou. Estavas me esperando no local certo, de modo que eu O encontrasse no momento certo. Pois, antes de encontrar-Te, era preciso que eu atravessasse uma parte desse deserto sozinha. A partir do instante que eu O encontrei, tudo se tornou mais fácil. Tu me destes a mão e fomos juntos caminhando até o fim, até encontrar em meio à esse deserto tenebroso o oásis. Ali foi onde tudo se iniciou... Aos poucos, juntos, nós fomos ajeitando o terreno. Plantastes sementes com raízes firmes e profundas, e acompanhada de Ti eu estive dia após dia a regar esse terreno para que crescessem coisas novas. Demorou um pouco, mas quando me dei conta já havia um jardim lindo repleto de diversas flores e árvores. Haviam rosas que exalavam um perfume doce, que eram um acompanhante muito agradável ao nosso passeio por esse jardim. Dia após dia, Tu estavas comigo, passeando, me ensinando e me instruindo, me auxiliando na retirada das ervas daninhas e plantando comigo raízes profundas que cresceriam e dariam bons frutos. Tudo mudou e é Tu que mantém tudo isso vivo. Sem Ti as flores murcham, os frutos apodrecem, as árvores morrem, o jardim se desfaz e vira um terreno vazio. Finalmente, o oásis que era só uma parte, estendeu a tal ponto que extinguiu o deserto. Então já não havia mais vazio. A zona de morte que havia se formado foi incendiada pelo fogo de Teu amor.
No recôndito de meu deserto se formou um jardim e Tu és o autor principal dessa obra, Jesus.
Escrito por Beatriz Back

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

SAL E LUZ DO MUNDO



Jesus deixa uma mensagem muito importante àqueles que creem nEle e o seguem. Ele diz: "Vós sois o sal da terra" (Mt 5,13) e "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,14). Contudo, será que estamos sendo verdadeiramente sal e luz para o mundo? Ou será que o sal já perdeu o seu sabor e a luz ofuscou? Afinal, o que significa ser sal e luz?

As propriedades do sal são as de dar o sabor e preservar os alimentos, e a tradição bíblica viu nisso um símbolo da sabedoria. Qual seria esta sabedoria? A própria Palavra de Deus e a Boa-nova que anuncia o Evangelho. A questão é como devemos carregar essa sabedoria. Carregá-la em nossos lábios é o bastante? A resposta está um pouco adiante, em Mateus 7,24: 

Assim, todo aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem sábio, que construiu a sua casa sobre a rocha.

Jesus está dizendo que é necessário colocar em prática a Palavra de Deus para ser um homem sábio. Sendo assim, para sermos verdadeiro sal, a sabedoria tende estar personificada em nossa vida.
Se a sabedoria está presente apenas em nossa mente ou até mesmo em nossos lábios, somos como o sal que perde o seu sabor. Se anunciamos palavras de sabedoria e praticamos atos contrários à ela, somos o sal que se tornou insosso.

Assim também segue o entendimento da luz. Ainda mais explicitamente, a luz evoca à conduta diária dos seguidores de Jesus, que devem estar em concordância com aquilo que diz o Senhor. São Paulo nos diz que "Outrora éreis trevas, mas agora sois luz do Senhor. Comportai-vos como verdadeiras luzes" (Ef 5,8). Mas esta luz não deve estar apenas refletida em atitudes, mas também deve refletir no testemunho. Assim, seremos verdadeiro sal e verdadeira luz para às nações do mundo.

Não obstante, é essencial reconhecermos que esta luz não é nossa. Ela é uma luz refletida, ela é apenas uma parte da luz, um reflexo da grande Luz. Em João 1,9 diz que "O verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem". Portanto, é o Verbo, o Logos, que nos ilumina e nos faz ser a luz do mundo. É o Espírito de Deus em nós que produz essa luz. Assim, é necessário deixar-se usar por Cristo, de tal modo a dizer: 

Já não sou eu quem vive, mas Cristo é que vive em mim (Gl 2,20)

Precisamos ser como espelhos, que refletem o brilho da glória de Deus. Assim, seremos um símbolo da vida de Deus neste mundo, pois, "a vida era a luz" (Jo 1,4).

O mandamento do Senhor é claro quando entendemos que somente aqueles que manifestam a posse do Espírito de Deus, podem convencer outros de que a vida do espírito vale a pena ser vivida. Sendo sal e luz para as nações, seremos um sinal da vida de Deus para um mundo decaído, e para isso, é necessário crucificar-nos para nós mesmos para que Cristo possa reinar em nosso coração.


terça-feira, 9 de janeiro de 2018

AMOR: ONDE TUDO COMEÇOU



Nada mais doce do que o amor, nada mais forte, nada mais sublime, nada mais amplo, nada mais delicioso, nada mais perfeito ou melhor no céu e na terra; porque o amor procede de Deus, e em Deus só pode descansar, acima de todas as criaturas. (Imitação de Cristo, Tomás Kempis, p.124)

Nada existe verdadeiramente e subsiste sem o amor. Já com o amor, tudo permanece e subsiste para sempre. Pois o amor, é o fundamento e princípio de toda criação. Toda criatura que pisa sobre a terra foi criada em um transbordar de amor advindo dAquele que é o próprio Amor. Assim, toda criatura fora criada no amor, pelo amor e para o amor. Sendo este o fim último para o qual fomos concebidos, sendo esta a vocação de todo ser humano: amar. Amar e ser amado. Tudo gira em torno deste ciclo de amor, que começou e só pode começar nAquele que é em essência pura e em totalidade perfeita o próprio amor: Deus, o Criador.

Diante de um mar abrigado de pontos de interrogação ambulantes, é natural nos perguntarmos "Por que eu fui criado?" ou "Para que fui criado?". Estas respostas que procuramos jamais serão encontradas se não nos voltarmos àquilo que transcende toda a criação, e as respostas jamais serão verdadeiramente compreendidas se não voltarmos nosso olhar para dentro de nós ao sermos tocados por Aquele que transcende a criação. É só quando o Eterno toca o finito que as ondas do mar de dúvidas se acalmam, pois, o finito é capaz de enxergar à infinidade que experimentará em relação com o Eterno. Relação esta que sempre fora sonhada por Ele, mas que fora rompida por um desejo pobre, tornando o que era infinito finito.

Nós, finitos, nós desejamos subsistir sem o Amor, mas esta é a ordem de tudo que há: nada subsiste sem o amor. Porque tudo é sujeito à corrupção se estiver fundamentado naquilo que é em si corrupto ou sujeito à corrupção. No entanto, tudo o que está fundamentado naquilo que é incorruptível, jamais será extinguido. E o que é incorruptível?! O amor! O amor não tem fim, e ele é por si mesmo difuso; deseja ser difundido, propagado, compartilhado, derramado. O amor não se contém em si mesmo, ele quer transbordar! E nós somos frutos desse transbordar do amor, de tal forma que o nosso alvo e propósito é o amor. E de tal forma que nada nos satisfaz se não antes o amor nos satisfazer. Nosso eu clama por amor em um grito de desespero, porque ficar aquém do amor é ficar aquém de si mesmo. Ao voltarmo-nos para o amor, há um encontro com nós mesmos e com aquilo que nos constituiu no princípio. Tudo então entra em perfeita harmonia e sintonia, pois está em concordância com o propósito da criação. Na criação, Deus nos gera e é por isso que estamos ligados à Deus e tudo o que carregamos reside nEle, de forma que só nEle encontramos aquilo que precisamos.

O homem decidiu se distanciar do Amor e tudo o que surgiu a posteriori foi angústia, dor e sofrimento. O que poderia ser feito para essa distância se extinguir se o homem tornou-se aquilo que há de mais incompatível com o amor? Não seria possível por méritos próprios ou esforço próprio que o homem se aproximasse novamente do amor, porque distante do amor ele estava, e portanto, não tinha força nenhuma; era corrupto e estava fundamentado sob a corrupção. Seria necessário que a solução viesse daquilo que tem mais força: o Amor. E o Amor, sendo doação e não se contendo em si mesmo, decide se doar. O Amor decide se doar em favor daqueles que tinham se afastado dele, mas que o desejavam mais do que tudo. O Amor aproxima os necessitados de amor para uma comunhão com Ele. A partir dessa comunhão, que ocorre entre o finito e o Infinito, todos as demais relações de amor, mesmo que finitas, tornam-se possíveis. Porque uma vez que fomos tocados pelo amor divino e somos por ele alimentado dia-a-dia, nada fará com que ele se contenha em si, e então ele desejará se transbordar, e muitos serão os tocados por esse amor nesse derramamento.

No princípio era o Amor, e o Amor se rebaixou ao finito para se doar pelos que eram finitos, tornando-os infinitos no amor.

Viver em comunhão com o amor: eis a máxima perfeição, o que há de mais sublime, mais amplo, mais delicioso e melhor no céu e na terra. 

Escrito por Beatriz Back

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

SOL E LUA: FENÔMENOS DO AMOR



Eu vi um homem que avistava o sol, exatamente como todos os homens o veem em seu sentido natural: como um borrão brilhante, nem um pouco límpido, no entanto, muito claro. Sua luz irradiante permitia o homem enxergar com clareza todas as demais coisas existentes. Porém, quando a noite aparecia, sua luz se desvanecia na lua, que embora fosse límpida aos seus olhos, impossibilitava o homem de enxergar o que havia ao seu redor, obscurecendo sua visão. Tudo se tornaram sombras e lampejos, comparado a lucidez do dia. Tudo então se tornou escuro, exceto a fonte de luz que permanecia no céu, a lua, mais que límpida, resplandecente e perceptivelmente cômoda. Mas, sua lucidez cegava o homem em relação ao restante, roubando o brilho de tudo o que havia; completamente oposta à sua fonte originária, que embora não fosse lúcida, abria os seus olhos, dando brilho à tudo o que há. Eram adversas em sua finalidade e adversárias àquele homem que as via, embora assim não fosse à outros que ao olharem compreendiam realmente e acolhiam a completude destes fenômenos que ocorrem todos os dias. Para homens de tal sensibilidade isso ocorria, e ocorre sempre, para revelar o propósito da real existência da vida humana, que deve abrir-se a transcendência, pois foi além dos limites da razão do homem que ela se originou. Para elas, tais fenômenos vêm como uma espécie de simbolismo, representando o amor que recebemos e o Amor a qual somos convidados a contemplar. Porém, aquele homem que vi negava sempre tal convite, fechando-se em um lugar de quatro paredes e fixando seu olhar em luzes que não eram de fontes secundárias, nem terciárias, mas muito mais distantes e perigosas. Dessa forma, o homem fechava todos os dias os olhos à beleza autêntica da vida, enquanto apreciava um mundo de beleza pobre e corruptível que o deixava doente. Pobre homem, que embora compreendesse o movimento da luz em termos da ciência, não podia o compreender em termos poéticos, e por isso mesmo, muito mais verdadeiros. Pobre homem, que embora compreendesse e até admirasse o movimento do sol e da lua, não era capaz de compreender o que estava por trás disso tudo. Não compreendia que nesses movimentos refletia-se o propósito atual e mais sublime para todos os homens: de ora olhar para dentro, ora olhar para fora; contemplando sempre a beleza do amor, embora em perspectivas diferentes.

Autoria de Beatriz Back.

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