terça-feira, 15 de janeiro de 2019

EQUILÍBRIO DA PERFEIÇÃO


É possível perceber pelo infinito céu que se estende sobre nossas cabeças, pelas cores vibrantes de tudo o que há de mais natural, pelo canto dos pássaros e pelos movimentos dos animais, pelo perfume das belas flores que florescem em uma espontaneidade quase mágica, que há vida. Vida que evidencia um ciclo que sobrevive de maneira misteriosa, e que nos arrasta ao ceticismo de que seu surgimento, movimento e perpetuidade, se fundamenta em algo tão simples, e paradoxalmente tão complexo, como as explicações da ciência.

A vida que nos é apresentada em seu devir nos dirige à transcendência dela própria, desvelando a majestade de seu Criador. Experiência ainda mais intensa é quando nos deparamos com o ser humano. Criatura inédita. Nele se encontra a essência do transcendente, que por vezes parece estar nebulosa e sombriamente escondida por algo que a impede de manifestar-se em sua plenitude. No entanto, expressivamente a singularidade da vida se encontra ali, no mais íntimo do homem: na sua inteligência e vontade, na sua racionalidade e espiritualidade. Uma união que não está presente em qualquer outro lugar debaixo do céu e nos limites da finitude. Apenas no ser humano, criatura moldada com amor infinito pelas mãos do Oleiro.

Se sobrepõe, todavia, um grande porém, quando a pureza imaculada da obra criada é manchada pela soberba de Eva, ao avistar uma árvore que a fez desejar para si um fruto proibido. Grande tragédia, a qual implementa a revolta da razão e inteligência humana contra o seu próprio Criador. Surgem os vícios, a perversidade, a malícia, a iniquidade, a desumanidade. Humanidade que se despedaça, rompendo o equilíbrio da perfeição, entre o que é corpóreo e o que é espiritual.

Grande reviravolta ergue-se séculos depois, quando a Nova Eva, ao avistar a árvore da Cruz, não deseja para si o seu fruto, - que também é o fruto Bendito de seu ventre – mas o entrega inteiramente a Deus. Daquela árvore surge o fruto redentor, capaz de destruir toda espécie de iniquidade e desordem humana. Fruto que lava e purifica a miséria humana adquirida no pecado, capaz de fazer brotar toda espécie de semente virtuosa, na qual resplandece a beleza originária da obra criada.

Este fruto Bendito dissipa a névoa que se sobrepõe na bela e mais singular obra criada, restabelecendo a vida do espírito em equilíbrio à vida dos sentidos, daqueles que decidem-se tornar solos férteis, terrenos fecundos para nascer a árvore da vida – o amor. 


Beatriz Back

Um comentário:

  1. "A vida que nos é apresentada em seu devir nos dirige à transcendência dela própria..."
    O que seria essa transcendência, e ela é algo intuído ou conhecido?

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