É possível perceber pelo infinito céu que se
estende sobre nossas cabeças, pelas cores vibrantes de tudo o que há de mais
natural, pelo canto dos pássaros e pelos movimentos dos animais, pelo perfume
das belas flores que florescem em uma espontaneidade quase mágica, que há vida. Vida que evidencia um ciclo que
sobrevive de maneira misteriosa, e que nos arrasta ao ceticismo de que seu
surgimento, movimento e perpetuidade, se fundamenta em algo tão simples, e
paradoxalmente tão complexo, como as explicações da ciência.
A vida que nos é apresentada em seu devir nos
dirige à transcendência dela própria, desvelando a majestade de seu Criador. Experiência
ainda mais intensa é quando nos deparamos com o ser humano. Criatura inédita. Nele
se encontra a essência do transcendente, que por vezes parece estar nebulosa e
sombriamente escondida por algo que a impede de manifestar-se em sua plenitude.
No entanto, expressivamente a singularidade da vida se encontra ali, no mais
íntimo do homem: na sua inteligência e vontade, na sua racionalidade e
espiritualidade. Uma união que não está presente em qualquer outro lugar
debaixo do céu e nos limites da finitude. Apenas no ser humano, criatura moldada
com amor infinito pelas mãos do Oleiro.
Se sobrepõe, todavia, um grande porém, quando a pureza imaculada da obra
criada é manchada pela soberba de Eva, ao avistar uma árvore que a fez desejar
para si um fruto proibido. Grande tragédia, a qual implementa a revolta da
razão e inteligência humana contra o seu próprio Criador. Surgem os vícios, a perversidade,
a malícia, a iniquidade, a desumanidade. Humanidade que se despedaça, rompendo
o equilíbrio da perfeição, entre o que é corpóreo e o que é espiritual.
Grande reviravolta ergue-se séculos depois, quando a
Nova Eva, ao avistar a árvore da Cruz, não deseja para si o seu fruto, - que
também é o fruto Bendito de seu ventre – mas o entrega inteiramente a Deus. Daquela
árvore surge o fruto redentor, capaz de destruir toda espécie de iniquidade e
desordem humana. Fruto que lava e purifica a miséria humana adquirida no
pecado, capaz de fazer brotar toda espécie de semente virtuosa, na qual
resplandece a beleza originária da obra criada.
Beatriz Back
"A vida que nos é apresentada em seu devir nos dirige à transcendência dela própria..."
ResponderExcluirO que seria essa transcendência, e ela é algo intuído ou conhecido?